Como introdução ao texto a seguir, é altamente recomendável ler o escrito pelo Felipe sobre a Willys, clicando aqui. Os trechos foram extraídos do livro de Bird Clemente, lançado no ano passado, “Entre Ases e Reis de Interlagos”.
Após vencer uma corrida em El Pinar, Bird Clemente entrou para a história do automobilismo nacional e ainda faturou como prêmio, uma passagem da Air France para assistir a corrida de Le Mans no mesmo ano, em 1964.
Entretanto, na equipe Willys, o combinado era dividir o prêmio entre todos, separando 10% para os mecânicos. O próprio Bird relata em seu livro a resolução da divisão:
“Como apenas eu iria a França, doutor Sérgio Junqueira, um de nossos diretores na Willys, um grande sujeito, resolveu bancar a viagem para todos. Fomos eu, Wilsinho e Luiz (Pereira Bueno), além do Greco. Foram conosco também, por sua própria conta, Chico Landi, Marivaldo Fernandes e Rodolpho Olival Costa.”
Já na França, a primeira parada foi na fábrica da Alpine, em Dieppe, onde Greco conseguiu carros para a locomoção no país. Bird Clemente aproveitou para testar um novo modelo da marca, pois era um desejo da matriz que ele fizesse uma participação na Europa, algo que não aconteceu posteriormente.
Aproveitando a estadia na França, e a proximidade entre a prova de Le Mans e o Grande Prêmio de Fórmula 1, os turistas assistiram as 24 Horas de Le Mans e, na semana seguinte, a corrida em Rouen. Bird continua, ainda no caminho entre Dieppe até Le Mans:
“Na sequência fomos para o hotel, uma construção antiga, de apenas três pavimentos, formando um retângulo com enorme pátio no meio. Ali se hospedavam vários pilotos e, no pátio, ficavam estacionados os carros que iam participar das 24 horas de Le Mans no dia seguinte. Ficamos no mesmo quarto eu, Wilsinho e Fofô (Rodolpho). Luiz Pereira Bueno e Greco evitavam ficar com Wilsinho.”
A preocupação de Greco e Luiz em evitar o mesmo quarto de Wilsinho iria se mostrar justificável no meio da noite:
“Eu estava dormindo, já de madrugada, e lá pelas tantas fui acordado com o acender e apagar da luz. Fingi que dormia. Wilsinho saia e entrava no quarto, vai pra lá, vai pra cá, e me perguntei o que acontecia com ele. Quando Wilsinho agia de forma estranha, lá vinha ‘chumbo grosso’.
Então ele se sentou na minha cama e por algum tempo ficou olhando-me encabulado, sem saber o que fazer, e eu continuei fingindo dormir, mas, olhando o jeitão dele por uma frestinha de minhas pálpebras, percebi que ele se decidiu e me cutucou: ‘Bird, Bird’. Fingi que estava acordando.
-Cara, me ajuda. Estou com muita vontade de ir ao banheiro, com uma tremenda dor de barriga e não consigo. Sento naquela privada esquisita que nem sei como funciona, olho para aquela portinha baixa, dá-me uma desconfiança que alguém vai ficar me olhando por cima, e não sai nada.”
Wilsinho era mestre em situações assim, onde suas manias e timidez o deixava em enrascadas. Mas para isso, José Carlos Pace, sempre o ajudava a dar um jeito, porém agora ele não estava lá, e coube a Bird tentar uma solução:
“- Não me enche o saco, tá pensando que eu sou o Moco? Vai lá e tenta mais uma vez, se você não conseguirm vou com você…”
O banheiro comunitário e com as portas baixas incomodava demais Wilsinho e após uma chamada de atenção de Rodolpho, que tinha acordado com a confusão, Bird se levantou e ficou esperando no corredor. Mesmo assim, o problema não foi resolvido. Sem paciência com o impasse, e não resolução do problema, Bird desistiu e foi para a cama, para presenciar um fato bizarro:
“E Wilsinho ia, voltava, ia, voltava, até que eu vi algo que não acreditei. Ele pegou meu gibi, arrancou algumas páginas, fez um ninho em um canto do quarto e lá despejou sua necessidade. Nossa, eu não sabia se chorava ou ria, e rezava para o Fofô não acordar, senão eles eram capazes de sair na porrada ali mesmo.
Wilsinho fez um pacotinho daquele negócio. Eis então que abriu a janela e jogou aquilo pra fora. ‘Meu Deus, como pode?’, pensei.”
Tudo resolvido, até quando Bird abriu a janela do quarto pela manhã, embaixo, um Matra-Maserati prateado acertado pelo 'embrulho' de Fittipaldi, pronto para participar da prova de Le Mans, ou quase:
“- Wilson, vem cá. Olha o que você fez! O meu gibi todo em português, e você me apronta uma dessa? Adivinhe o que vai acontecer! Pelo amor de Deus, pense!
Sem saída acordei Greco, contei-lhe o que havia ocorrido e fomos embora dali o mais rápido que pudemos. Só mesmo Wilsinho para criar uma confusão daquelas.”
9 comentários:
Que mala esse Wilsinho hein! E que história...
Tenho o livro do Bird aqui comigo, mas nunca me animei a ir muito longe com ele. O Bird é excelente como piloto e prosador, mas... Mas o ghost-writer dele tem uma ótima razão pra permanecer no anonimato. O resultado é uma narrativa arrastada, que perde momentos muito bons em floreios e idealizações. Minha sorte foi tê-lo ganhado, porque não vale o quanto a livraria pede.
O livro funciona como um bom registro dessas histórias. Ações assim são importantes para mantê-las vivas.
Mas com o desenrolar dos capítulos, o livro se torna cansativo.
A visão dele sobre o Wilsinho é totalmente diferente da que eu tinha.
Hilário...muito interessante.
Alguns pilotos chegam a fazer suas necessidades dentro do carro durante a corrida,agora em folhas de gibi nunca tinha visto.
hahahahha...
Muito engraçada essa do Wilsinho. Se acomodou no cantinho do quarto e largou ali mesmo suas necessidades. O pior foi ter acertado o carro lá embaixo.
Abração!!
Eta Wilsinho, parece mineiro po!
To louco pra ler este livro na integra.
hauhauhauhauhuauhuahah
essa aí o Bruno já tinha me contado há alguns dias...
no entanto, acabei rindo novamente...
Obrigado amigos.
Mineiro não, Ron. O cara é paulista, hahaha.
belo poste felipão...valeu por relembrar este fato historico do automobilismo!
Ahahahaha
Paulista com jeito de mineiro, né não, Bruno?
Muito boa!
Beijos.
Postar um comentário