“Fiz críticas ao carro e não à equipe. Acontece que o carro era uma merda, um lixo em matéria de segurança e os caras sabiam disso.”
Estas são as duras e revoltas palavras de Nelson Piquet no ano de 1988, sobre o acidente que vitimou o canadense Gilles Villeneuve em 1982, um dos mais marcantes pilotos de toda a história da Fórmula 1.
Villeneuve estreou na categoria no ano de 1977 pela McLaren, após um convite de James Hunt e a boa impressão logo na estréia - mesmo com um modelo de carro ultrapassado - lhe rendeu uma vaga na Ferrari. No ano seguinte conseguiu sua primeira vitória, mas o carro vencedor viria em 1979, junto com a chegada de Jody Scheckter.
Apesar do bom início e a boa adaptação com o carro, muitos problemas assolaram o canadense, que foi perdendo espaço para seu companheiro sulafricano. Foi um golpe duro para Villeneuve. Sobrou a ele se agarrar na esperança que a Ferrari conseguisse manter o bom rendimento nas próximas temporadas, mas não foi o que aconteceu.
O próximo carro vencedor apareceu em 1982, num ótimo trabalho dos engenheiros da equipe.
Dessa vez, Scheckter já tinha terminado sua carreira na Fórmula 1 e Villeneuve tinha a companhia de Didier Pironi. O francês era rápido e o canadense sabia que o filme de 1979 não poderia se repetir, mas os problemas ainda o perseguiam e na quarta prova do mundial Pironi venceu a primeira, com Gilles a chegar em segundo.
A Ferrari ordenou para seus pilotos reduzirem a velocidade e Pironi foi com tudo para ultrapassar Villeneuve e ficar com a vitória. A equipe estava em cima do muro sobre qual era o primeiro piloto, o que deixou Gilles furioso.
Disputa em San Marino, Pironi levou a melhor sobre Gilles na última corrida entre os dois
Na quinta etapa, na Bélgica, o clima já não era nada amistoso na Scuderia. Didier tinha marcado os melhores tempos e Villeneuve saiu pressionado a superar seu companheiro. Acabou por encontrar o lento carro de Jochen Mass na chicane e algo terrível aconteceu: um acidente muito forte que vitimou o canadense.
Nelson Piquet continua:
“Ele foi destroçado como uma galinha. Eu parei lá e vi o carro. Os parafusos que prendiam o cinto de segurança no monocoque foram arrancados – mas só os da parte de baixo. Então o que aconteceu? Como o corpo ficou solto na altura da cintura, ele escorregou para baixo e acabou sendo praticamente estrangulado pela parte de cima do cinto. Claro, depois soltou tudo e ele voou longe, mas a essa altura o pior já tinha acontecido.”
“Fora o problema do pescoço, ele saiu do acidente apenas com uma clavícula fraturada. Os engenheiros da Ferrari ficaram putos com as minhas críticas, disseram que eu não era técnico no assunto e não podia falar nada. Ora, não precisa ser nenhum técnico pra saber que o carro não prestava. O Didier Pironi também tomou as dores da equipe e me mandou calar a boca. Eu disse a ele pra deixar de ser burro, tentei explicar que ele só tinha a ganhar com as minhas críticas. Ele não me ouviu. Um mês depois teve um acidente e se quebrou inteirinho – ele e a Ferrari.”
Final trágico para um dos pilotos mais arrojados da Fórmula 1
A Ferrari não participou do grande prêmio e Didier Pironi voltaria em Monaco, onde por muito pouco, não conseguiu a vitória. A superioridade da Ferrari era enorme e o francês caminhava para conseguir seu título mundial, mas a perda de Villeneuve ainda era algo perturbador para ele.
No mesmo ano, um acidente muito forte, que terminou pela morte de Riccardo Palleti foi mais um golpe para o francês. Na largada, sua Ferrari não arrancou e Palleti acertou em cheio o carro de Pironi. As chamas não foram domadas e o italiano faleceu.
No grande prêmio da Alemanha, também durante os treinos, um forte acidente marcou o final da participação oficial de Pironi na categoria. Assim como no caso de Gilles, mentalmente o piloto estava muito desgastado.
Nelson Piquet foi um dos primeiros a chegar até o local.
A volta de Pironi a um carro de Fórmula 1 aconteceu apenas quatro anos depois do terrível acidente. Após alguns testes ficou constatado que seu ritmo não era o mesmo e a dor era uma implácavel inimiga. Apaixonado por velocidade, Pironi morreu durante uma competição de barco em 1987. Deixou a esposa grávida de gêmeos que os nomeou como Didier e Gilles.
*texto original publicado em 14 de maio de 2009.
9 comentários:
Foi uma época dura muitos nomes iam se perdendo, devido a uma engenharia deficiente e em nome de bons resultados não se dava atenção para a segurança.O Piquet sabia o que estava falando tinha sim base técnica.
É uma história que todo mundo sabe, todo mundo ja contou , mas tem sempre um ângulo novo a ser explorado.
todos os acidentes trágicos de 1982 tiveram de certa forma a presença do Pironi...
Pironi era muito talentoso, mas 1982 que poderia ser o ano de seu título, se tornou um pesadelo.
Uma pena que a Fórmula 1 não tenha mais pessoas espontâneas como o Nelson.
Valeu amigos.
Didier Pironi era um bom piloto, mas infelizmente tudo o que houve de ruim em 1982 permeava sua presença no grid, até que ele próprio acabou sendo vitimado, vitimando também a Ferrari, com sua última grande chance de ser campeã antes do domínio da McLaren e posteriormente desta com a Honda.
O que já foi dito, sobre a temporada de 1979, é que, a certa altura do ano, o "Poderoso Chefão" Enzo Ferrari teria dito a Villeneuve: "Este ano vamos trabalhar para o Jody. A partir do ano que vem será para você!"
Segundo o mesmo relato, o Villeneuve topou e foi segundo piloto "exemplar" até o final da temporada...
Na temporada seguinte, 1980, a Ferrari foi muito mal! Ficou atrás até da Fittipaldi na classificação dos construtores.
O resto tá contado no post....
Aliás, naquela foto de San Marino, a primeira do post, um leganda apropriada seria: "Ferrari corta as asas de Villeneuve!"
(reparem o detalhe da diferença entre os carros de Pironi e Villeneuve. Um com e o outro sem a asa dianteira).
abraço,
Renato
Pironi bateu na traseira do Prost nos treinos na Alemanha. Dizem que, por causa deste acidente, Prost nunca mais foi o mesmo piloto em condições chuvosas de corrida.
E as corridas que acompanhei do Prost na chuva depois do ocorrido provam isso...
"Para os deuses, somos como as moscas para as crianças travessas; matam-nos para se divertirem" - O Rei Lear
ótima descritiva de uma história nada boa...
Muito triste tudo isso... muitas perdas de grandes pilotos... mas isso ninguem pode prever nem controlar, apenas tentar entender...
Carlos Eduardo Szépkúthy
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