quarta-feira, 8 de julho de 2009

Salvos

O Capeta sendo colocado na cegonheira. Foto: Taiada-Blog

Há alguns dias, em razão do vencimento de um contrato de comodato, quatro carros históricos foram resgatados do Museu de Caçapava pela Ford. O movimento foi comandado por Roberto Nasser, que revelou detalhes da operação. "A Ford -- assim como outras pessoas físicas e jurídicas -- cederam carros em comodato ao museu. O contrato condicionava ao seu funcionamento. Fechado o museu, algumas pessoas tentaram retomá-los para garantir sua preservação. No caso da Ford provoquei uma pesquisa e acharam-se num arquivo mortíssimo os contratos de comodato".

Entre os modelos encontrava-se o único Capeta já produzido, um protótipo raro, que foi apresentado pela Willys no Salão do Automóvel de 1964. Além dele, o Knight 1926, o Whippet 1927 e o Overland 1906 "voltarão aos seus dias de glória", agora no museu de Brasília. “Houve subtração de muitas peças,” diz Nasser. “Vi os carros superficialmente, mas faltam faróis, lanternas, calotas. No caso do Capeta, furtaram as rodas, calotas, volante, bancos. O verbo é furtar porque não houve violência contra ninguém”.

Tudo começou quando Roberto Lee adquiriu um Fiat 1926. Tempos depois, numa garagem do bairro de Pinheiros, em São Paulo, encontrou um raríssimo Hispano-Suiza 1911. Após a restauração do modelo, envolveu-se em uma grande cruzada pelo Brasil, à procura de outros modelos que pudessem compor sua coleção.

Mais uma do Capeta. Foto: Taiada-Blog

A degradação do museu se iniciou há 34 anos, quando Elza Leonetti do Amaral, que atuou em alguns filmes do "Zé do Caixão", procurou Roberto Lee em seu escritório, em São Paulo. Depois de uma discussão, Elza sacou um Colt calibre 32 e desferiu dois tiros no empresário. Dias depois da tragédia, descobriu-se que o ex-marido de Elza, Anésio Augusto do Amaral Filho, havia se suicidado, em 1966, com aquela mesma arma. Figura conhecida da sociedade paulistana, Roberto Lee era amante de Elza, e o crime foi motivado por sua recusa em assumir a paternidade de sua filha de um ano, Andréia Cristina. Elza foi condenada a seis anos de prisão, mas jamais os cumpriu.

Desde então, o que um dia foi a maior coleção de carros antigos do Brasil, tornou-se um sombrio cemitério de automóveis. Porém, em outros tempos, o museu chegou a contar com cerca de 60 carros expostos. Após o assassinato, alguns foram devolvidos aos antigos donos. Cerca de 20 modelos, que eram de Roberto Lee, acabaram negociados por sua filha Mariângela. Ficaram de fora dessa operação os 26 carros que não estavam em nome do colecionador, que são os que permanecem até hoje em Caçapava.

O Willys Whippet de 1927. Foto: Taiada-Blog

Modelos como o raríssimo Hispano-Suiza foram arrematados por colecionadores estrangeiros. Mariângela dividiu o dinheiro com a outra herdeira, Andréia Cristina, que acabou sendo reconhecida como filha legítima de Roberto depois do assassinato. ”Tive alguns encontros com a herdeira Lee,” confirma Nasser. “Moça gentil, sociável, e nos conhecemos de longa data. Mas não gosta do assunto museu. Assim, delongou e questionou enquanto pode. Este desinteresse é que gerou tantos saques cuidadosos”.

“Há dois anos,” continua, “com a operação resgate montada - cegonha, pneus de reserva, material de socorro, plataforma, e até o Og Pozolli como co-autor do laudo de recebimento, disse não. E que os entragaria com ordem judicial. Não foi preciso. O Marcos Oliveira, Presidente da Ford, informado, mandou ligar o trator da multinacional. As advogadas da Ford fizeram uma notificação, e seus advogados, de bom senso, aconselharam-na a entregá-los. A herdeira Lee agiu com educação de berço. Mandou o encarregado derrubar o muro em frente ao portão, providenciou guicho plataforma, entregou os carros sobre a cegonha”.

Maverick do Raid da Integração, observado por Og Pozolli. Foto: Blog do Gomes

Infelizmente, o Maverick, famoso pela participação no Raid da Integração Nacional do DNER, não foi incluído no pacote. “Ele não pertence à Ford. Em 1975 pedi pessoalmente ao Flávio Guimarães, diretor de RP, e ao Joseph O´Neill, presidente, que em vez de comodato, que o doassem ao museu, o que foi feito. Quase 0 km, porém depenado totalmente no interior, detalhes, boa parte de suas latas e periféricos do motor”. Através desse carro, em 1973, boa parte das estradas e rodovias brasileiras puderam ser mapeadas.

Em uma busca pela internet, não encontrei notícias do Alfa Romeo P3 Grand Prix (foto acima), que um dia pertenceu à francesa Hellé Nice. Em 1936, a piloto sofreu um grave acidente numa corrida realizada nas ruas da Zona Sul de São Paulo, que resultou na morte de oito expectadores. Depois do sinistro, o carro passou por inúmeros endereços, até se perder. Foi encontrado em um posto de gasolina em Ouro Preto, no interior de Minas Gerais, e incorporado ao museu.

Ah, sim. Por conta do feriado e da queda acentuada no movimento desse blog nas últimas semanas (o que me deixa chateado e repensando a continuidade do projeto), voltarei a postar apenas no sábado. Até lá!

18 comentários:

SAVIOMACHADO disse...

Felipão, fantástica esta história. Realmente impressionante.
Agora, convenhamos... É difícil uma mulher herdar todas essas relíquias e mantê-las guardadas.
Olha, o movimento de visitas aos blogs de toda a nossa turma caiu. Eu realmente não sei o que houve. Talvez seja até uma febre do Twitter que a cada dia tem milhares de novos seguidores. Isso também ajuda a diminuir o movimento.
Outro fato que acredito estar atrapalhando todo o nosso entusiasmo em postar e ler nossos blogs preferidos, é essa politicagem da Fórmula 1. É difícil de achar alguém que não fale do assunto.
Não esmoreça. Vamos continuar firmes em nosso propósito. Sempre que dá coloca alguma coisa, pois sempre tem alguém para vir dar um pitaco.
Um grande abraço meu velho!!
SAVIOMACHADO

Luís Augusto disse...

Bom descanso, Felipão, às vezes a gente se aborrece mesmo.

Ron Groo disse...

Puxa, algumas cenas são de cortar o coração.

E eu nem sabia que tinha um Willis Capeta lá. Que lindo devia ser este carro no seu auge.

Unknown disse...

aquele alfa romeo na ultima foto é mesmo de romper o coração. e o maverick!!

Marcos Antonio disse...

que lindos carros, que bom que agora eels serão recuperados...

E Faço minhas as palavras do Sávio, não esmoreça, essa febre do Twitter e esse trelelê da FIA/FOTA vai acabar...

Tohmé disse...

Felipão, nem pense o que vocÊ está pensando....

Gustavo disse...

Gostaria de ver todos eles em boas mãos ,mas isso já serve de consolo. Exelente relato, Parabéns.
Quanto ao blog quero que saiba o quanto admiro seu trabalho, mas os blogs em seu conceito são para guardar impressões pessoais e compartilha-las com os que pensam da mesma maneira.
Portanto faça algo para voce mesmo, sem se importr com quantos vão ou vem. Quem interessa vai estar sempre de olho no que voce pensa.
Abração

Fábio Andrade disse...

De blogueiro desistente já basta eu, sem essa.

Unknown disse...

Felipão, PELOAMORDEDEUS TENHA PACIÊNCIA,FAÇO AS MINHAS PALAVRAS O QUE DISSE O SAVIO MACHADO É TER PACIÊNCIA E ESPERAR ENQUANTO ISSO VAMOS TODOS NÓS DA TURMA SE FALANDO E COMENTANDO E NÃO DEIXAR A MORAL CAIR.

Quanto aos carros fico pensando em um Goodwood vejo belos carros no Brasil tomando banho de poeira e de esquecimento, seria bom por os carros para rodarem, será que seria sonho pensar assim.

Daniel Médici disse...

Caramba, não sabia que os melodramas da elite paulistana um dia foram tão emocionantes...

Quanto ao blog, o meu também tem tido uma audiência aquém nos últimos tempos. Deve ser um movimento normal, ou as minhas mais sobrias previsões começaram a ganhar corpo.

Anônimo disse...

Vi essa notícia aki em um jornal na quarta feira, eh realmente de cortar o coração ver akelas fotos. Ainda bem q estão a salvos (eu tb não conhecia o Capeta).

Pelo jeito a queda é generalizada Felipão. No meu tb aconteceu e, somado a alguns fatos me fez tb pensar se o BFI continuaria (e não vai mas já estou pensando em um outro projeto).

Felipão disse...

Valeu galera!!! Vcs são feras mesmo!!!

Teté M. Jorge disse...

Essa história do Museu de Caçapava ficou incrível e bem noticiada, mas... que negócio é esse de desistir do blog, Felipão?

Um dos melhores cantos que leio sobre o automobilismo, com sua escrita perfeita, pesquisas bem realizadas e histórias sensacionais... ah... que será da teca sem elas?

Vá em frente, meu amigo! Não desista nunca.

Beijo especial para alguém pra lá de especial.

De Gennaro Motors disse...

puxa....fico triste em ver esses carros assim neste estado !

Teté M. Jorge disse...

Vim aqui pra ler suas histórias e percebi que o blog tá de carinha nova... teremos mudanças por aqui?

Eeeeeeeeeeeba! Tudo continua firme...

Beijos.

Felipão disse...

hahahahah

colocamos uma corzinha, Teca...

tava muito palido o blog...

Bjos!!!

Telma Ramos Artes disse...

Olá, não desanime com o seu blog, viu? Eu sou artista plástica e faço reproduções de autos em telas. O mercado deste tipo de arte aqui no Brasil é de desesperar, mas eu não desisto...rs... Quem me indicou vc foi o Fabiano Pereira, da 4 Rodas. Pedi ajuda a ele, pois quero reproduzir numa tela o auto da Hellé-Nice. Desejo prestar uma homenagem a ela. Andei procurando fotos do "Baita", mas as que encontrei estavam mto ruins. Fiquei mto triste ao ver o estado em que se encontram as "belesuras", em especial o Alfa Romeo P3 Grand Prix em q.ela correu, mas mesmo assim foi a melhor foto. Apesar de parecer sem alma, tristonho, sei que conseguirei, através da tela, reavivá-lo. Vc me autoriza a utilizar a foto do blog? Meu e-mail é telmareiki@yahoo.com.br. Aguardo uma resposta, ok?
Mto prazer em conhecê-lo. Gde abraço apertado de laço, Namastê!!!
Telma Ramos

Brunocar disse...

Infelizmente é triste ver essas fotos! Quem viu esse museu ainda inteiro, e agora, cada vez mais desfalcado fica a certeza de que poucos se importam com a história. A própria administração municipal de Caçapava se negou a tomar qualquer atitude para salvar o museu. As fotos mostram que parte da história se perdeu, mas ainda pode ser recuperada. A história de Caçapava está se perdendo a passos largos e para sempre!