domingo, 21 de março de 2010

Um homem, um mito, uma lenda

Por: Deyvison Nascimento

Segunda-feira, 21 de março de 1960. São Paulo. Brasil. De repente, acaba de chegar ao mundo mais uma criança. Mais um ser humano para aumentar a contagem populacional no boom do crescimento apresentado pelo país nestes tempos. Fato corriqueiro se esta criança não fosse Ayrton Senna.

Aquela criança que veio ao mundo trouxe ao Brasil, ao mundo, uma demonstração que, sim!, é possível vencer na vida sem a postura covarde, sem a postura de derrotados, de pobres coitados como vemos em muitas pessoas públicas. Seja no esporte, na política ou nas artes. Trouxe, principalmente ao país, a imagem de que - "O mundo se curva diante do Brasil." - Um clichê largamente utilizado por décadas a fio nas terras tupiniquins.

Senna estátua

Um exemplo de correção, de determinação, de caráter, e principalmente de que nada substitui o trabalho. Falando apenas de resultados na principal categoria do automobilismo mundial, não era fácil conseguir 41 vitórias, 65 Pole-Positions em uma era abrilhantada pelos melhores pilotos que já guiaram os monopostos mais famosos do mundo. Niki Lauda e Alain Prost são apenas dois exemplos, que somam 7 títulos mundiais, de como era complicada a vida na F1 daqueles dias.

De início, a pequena Toleman, que já lhe permitiu uma vitória em Mônaco em cima das poderosas McLaren's, mas que lhe foi tirada pelo comissário de prova, por terminar a corrida com os resultados de uma volta antes. Para variar, sob um temporal. Depois, a Lotus. Quem não se lembra do lindo carro preto e dourado, mítico carro de Chapman? Com este carro, foram 15 vezes que o vimos largando no lugar de honra do grid, a Pole Position e também a primeira vitória no já distante ano de 1985, no Estoril, em Portugal. Depois, a Lotus-Camel, amarela, que, se não foi um sucesso como a anterior, foi o último degrau para atingir o cume.

A McLaren! É inimaginável ver a categoria hoje sem querer conhecer o lendário carro vermelho e branco, com brigas impagáveis entre Senna e Prost. Não é possível imaginar que o melhor carro da história da F1, a McLaren de 1988, tivesse em mãos diferentes do que as de Senna e Prost. Resultado? Temporada quase perfeita! 16 corridas, 15 vitórias para a equipe. E o final? Ah, esse já sabemos. Título para Senna. O mesmo fim teriam as temporadas de 89, 90 e 91. Mas, quis o destino que Balestre, um francês, estivesse à frente da FIA naqueles idos e tivesse interferido grosseiramente após manobra desleal de Prost contra Senna em Suzuka, dando o título ao francês. Mas, em 1990, a forra! E, em 1991, a afirmação. Tricampeão. Gênio. O melhor de todos os tempos. Os dois anos seguintes, com as inovações tecnológicas, a equipe ficou para trás, mas, mesmo assim, Senna não parava de assombrar o mundo.

Durante a temporada de 1993, mais precisamente em Donington Park, ele deixa todos boquiabertos novamente. Correndo com uma McLaren Ford, claramente inferior às poderosíssimas Williams-Renault, ele fez a volta perfeita. A volta considerada pela imensa maioria de especialistas de F1 como a melhor volta da história da categoria. Sai em 4º, cai para 5º, e, no fim da primeira volta já é o líder com folgas. Não é necessário dizer que foi sob um forte temporal, é? Ele decretou o fim da prova na primeira volta. Ele a venceria, e pronto! Mostrou ao mundo o que ele ainda era capaz de fazer.

E, na temporada seguinte, a realização de um sonho. A mudança para a Williams. Mas, com um carro mal nascido, sofreu com problemas e poucos resultados aconteceram até o fatídico 1º de maio. Ponto final de uma carreira brilhante nas pistas. Ponto final da história automobilística de um paulistano que fez o mundo se curvar ao talento de um piloto de carros. O início da lenda.

A mobilização nacional em torno de um homem que gritava ao mundo todo o seu orgulho de ser brasileiro, com um gesto típico, nascido nas ruas dos Estados Unidos em 1986. Ao vencer uma prova, empunhou uma bandeira nacional de um torcedor e a levou, de braço erguido, até o lugar mais alto do pódium. Pessoas de origens, credos, posturas diferentes, nas ruas de São Paulo, se abraçavam, se comoviam com a perda do maior herói brasileiro no período Republicano.

Mais que um piloto, um herói, ele é um símbolo. Um símbolo de que podemos, a despeito de todos os problemas, olhar pra frente e seguirmos com nossas convicções. Certa vez ouvi falar que Deus, às vezes, coloca entre os homens pessoas a frente do seu tempo para que mostrem o caminho aos outros. E, não tenho dúvidas, que foi este o ocorrido. Óbviamente não falo do piloto. Mas, do ser humano, do líder, do inspirador de tantas gerações. Falo daquele moleque que cresceu ouvindo o Tema da Vitória diversas vezes tocados nas manhãs de domingo. Falo do inspirador daquele pai de família que via no sentimento de vitória uma vontade incontida de se esforçar, de melhorar sua vida, seguindo o exemplo dado.

O destino quis que eu não o acompanhasse por toda a sua trajetória. No dia de sua morte, eu tinha apenas 6 anos. Mas cresci ouvindo e vendo histórias de como era o cidadão Ayrton. E, com o passar do tempo, fui me interessando mais e mais a ponto de discutir com qualquer um que conteste a sua superioridade nas pistas ou até mesmo a sua óbvia condição de lenda. Apelo aos DVD's e sistemas de compartilhamento de arquivos para manter acesa a chama da idolatria.

Rápido como ele, foi o tempo que passou após sua partida. Já são quase 16 anos. São 16 anos que mudam a história de um país. Neste tempo, deixamos de ser caloteiros para sermos credores no mercado financeiro. Deixamos de viver com a inflação galopante para celebrarmos uma agradável estabilidade. Celebramos, ano a ano, o sucesso da democracia no país. Só não deixo de reconhecer uma coisa: A cada dia, a cada temporada, se faz mais presente a sua ausência. Se fazem mais límpidas as lembranças e a certeza de que, onde estiver, está fazendo o bem pelo país que tanto amou.

E, para me despedir, permito-me recorrer a uma fala do próprio Ayrton, que é inspiração genuína: "Seja quem você for. Ocupando uma classe altíssima ou mais baixa no social, tenha sempre como meta muita determinação e faça tudo com muito amor e, acima de tudo, com muita fé em Deus. Que um dia você chega lá, de alguma maneira você chega lá.".

Votos eternos de saudade, campeão.

6 comentários:

Leandro Montianele disse...

Valeu Deyvison, belo texto!
Você descreveu exatamente o sentimento de vários torcedores do grande Ayrton Senna, que hoje deixa saudades.

Abraço!

Ron Groo disse...

Boa Deyvison, quis te parabenizar no dia em que me mandou o texto, mas ce já tava off.

Teté M. Jorge disse...

ES PE TA CU LAR!

Parabéns ao autor!

Uma homenagem merecida!

Beijos de uma grande admiradora deste corredor.

Lucas Ferreira disse...

Otimo texto. Parabens.

Abraços

Marcos Antonio disse...

textaço do Deyvidson, muito bom! hoje e um dia recheado excelentes textos sobre Ayrton!

Gustavo disse...

parabens belo post ficou bem legal, realmente ele era diferenciado desde o momento em que nasceu.