quarta-feira, 22 de abril de 2009

Vida que segue

"François morreu"

Seco, um mecânico dá a notícia para Wilson Fittipaldi, que ainda retira o capacete e balaclava.

Em sua mente, surgem os últimos registros do francês, seu vizinho de quarto no hotel. Naquela manhã, tomaram café e seguiram juntos para o autódromo de Watkins Glen, com Wilson de carona.

Enquanto Wilson respira fundo, José Carlos Pace atravessa os boxes da Brabham para questionar o amigo:

“Nós somos loucos. O que estamos fazendo aqui?”

Desesperado, Moco vinha do local do acidente, onde havia presenciado um cenário digno de filme de terror.

Como uma lâmina, o guard-rail havia seccionado as pernas e o pescoço de Cevert.

Imagens duras para o supersticioso Pace, justamente no dia de seu 29º aniversário.

Para compreender melhor o acontecido, voltemos um pouco no tempo.

Mesmo contando com o melhor tempo do dia, Cevert realiza nova tentativa para baixar sua marca. Queria testar seus limites, pois, na temporada seguinte, seria elevado ao posto de primeiro piloto da equipe.

Substituiria Jackie Stewart, que faria sua última corrida em Watkins Glen.

Ao passar por um desnível, perde o controle do carro e se choca na proteção de metal do lado direito da pista. Com o impacto, o Tyrrell vai para o lado esquerdo, onde, virado com as rodas para o ar, se arrasta pelo guard-rail.

No capacete, esmagado com o impacto, socorristas encontram vômito, motivando a teoria de desmaio do piloto, que sufocou após regurgitar.

O carro é retirado do guard-rail, com os restos mortais de Cevert coberto por um pano.

Nos boxes, correria e o suspiro de Colin Chapman, visivelmente transtornado.

Contudo, a F1, fria e conformada, segue seu curso.

Sem a presença de Jackie Stewart e Chris Amon, parceiros de Cevert na Tyrrell, as 53 voltas da corrida são completadas como se nada tivesse acontecido.

No pódio, a champanhe e a tradicional festa para os três primeiros colocados.

Isso, em 1973.

16 comentários:

Daniel Médici disse...

Fiz um trabalho extenso sobre Cévert para a faculdade, e nele encontrei algumas fontes dizendo que Stewart e Ken Tyrrel não haviam contado ao francês que ele seria o primeiro piloto no ano seguinte. Difícil saber se essa é uma versão romanceada ou a verdade.

Irretocável, o texto!

Marcos Antonio disse...

excepcional o texto, Felipão, o Cevert teve uma morte muito chocante e mesmo assim teve corrida no dia seguinte. Muito interessante a história. Você já postou no blog a história da cartomante e da mulher do Cevert?
Eu li em uma pasta do Fove e achei excepcional!

Felipão disse...

Daniel, muito obrigado, sem palavras. Quanto ao assunto, muitos mistérios circundam a morte do Cevert e esse citado por vc e um deles. Inclusive, vou colocar mais coisas nos próximos dias...

Felipão disse...

Ahhh... Marcão...

Vou colocar essa história aqui em breve. Fui eu mesmo que postei ela lá no Fove. Bem lembrado...

Abração...

Anônimo disse...

história trágica, e estranho mesmo ter a corrida mesmo após esse acidente terrível. Mas se a gente lembrar que, no fatídico GP de Ímola, quando o Ratzenberger morreu nos treinos e mesmo assim teve a corrida em q Senna tb se foi... bem... a história não mudou. Grande texto Felipão.

Ron Groo disse...

É esta mesma a visão de business da F1, e isto desde que foi inventada.
Há um dialogo no filme Grand Prix que expressa isto de forma pontual.
O personagem Jean Pierre Sarti conversa com a jornalista americana em um museu numa festa após a corrida que ele havia vencido.
Ela pergunta a ele se é certo estar ali festejando quando um homem estava no hospital gravemente ferido.
Ele responde que se ele tivesse morrido seria da mesma forma.
Se retiram daquele gp ou do proximo apenas a equipe do falecido.
Foi assim com a Ferrari quando Gilles se foi. Com a Williams quando Senna se foi... E tantos outros.
É triste, revoltante, mas é a realidade da F1.
Felipão. Seu texto está divino.

Felipão disse...

Valeu, Ron...

Puta elogio, quando vindo de vc. Inclusive, esqueci de mencionar, a foto principal retrata um dos últimos momentos do Cevert antes da batida...

sobreofutebolcarioca disse...

LEGAL ESSA HISTORIA

speed.king.thrasher disse...

putz, demais cara!!

grande post! mas quanto as reções do Hunt e Champanhe e talz... na época era meio normal pilotos morrerem ou se machucarem... ñ era tão sentido quanto é hj... realmente uma pena para o Cevert;;;

abs!!

Rianov disse...

Caramba Felipão!
Forte a história hein! Não sabia de tantos detalhes assim.
Parabéns.

Abraços

Teté M. Jorge disse...

Essa história realmente ficou um espetáculo na sua escrita...

Parabéns, Felipão! E gostei das fotos também.

Beijos.

Bruno disse...

Essa frieza é um pouco culpa dos pilotos, que nunca formaram uma aliança verdadeiramente sólida. Pode se ver isso até hoje.
Belo texto, Felipão. A segurança evoluiu bastante ao preço de muitos talentos, Cevert foi um desses.
Abraços.

De Gennaro Motors disse...

Grande Emerson ! sabado vou ver ele em Interlagos!

Felipão disse...

Queria agradecer a todos pelos comentários... Valeu mesmo galera...

Speeder76 disse...

Epá... falta eu, Felipão. O Francois Cevért é um dos pilotos que sempre me fascinou. Talento nato, que o destino se encarregou de só lhe dar uma vitória, e no circuito que m ais tarde o viria a reclamar a sua vida.


Escrevi extensivamente sobre o dia do acidente fatal em Outubro, quando se comemoraram os 35 anos da sua morte O link está aqui, para quem quiser ler(ou recordar):


http://continental-circus.blogspot.com/2008/10/francois-cevrt-anatomia-de-um-desastre.html

Já agora, da próxima vez que for a França, vou tentar passar por Vaudelnay, no Loire, que é o local onde se encontra a sua sepultura. Devo uma visita a ele.

Teté M. Jorge disse...

Speeder disse: "O Francois Cevért é um dos pilotos que sempre me fascinou".

A mim também!

Então, fui lá conferir a postagem do Speeder... que show!

Esse povo blogueiro é o que há!

Beijos a todos.