quinta-feira, 30 de abril de 2009

Ele viveu por seu sonho

Dezembro de 1993

O telefone toca.

Depois de tantos anos no Japão, seria a chance que tanto esperava. Era Nick Wirth, dono de um novo time da Fórmula-1. A tarefa, nas palavras do dirigente, parecia simples. Deveria reunir uma certa soma em dinheiro para fazer parte do projeto Simteck.

Roland Ratzenberger, então, inicia uma corrida contra o relógio.

Antes mesmo das festas de fim de ano, vai em busca de amigos e patrocinadores. Consegue, com uma executiva monegasca, parte do dinheiro necessário. Mas, ainda não era o bastante. Precisaria de mais. Afinal, como sobreviver sem nenhum tostão no bolso?

Assim, vai à Áustria, onde coloca a casa e o "fusca" à venda.

Fevereiro de 1994

Mal podia acreditar que estava ali, no autódromo Enzo e Dino Ferrari, para testar, pela primeira vez um bólido de Fórmula-1. Aquele, sem dúvidas, era o dia mais feliz de sua vida. Pelo menos foi o que disse aos jornalistas que lá estavam. Porém, depois de tanto sacrifício, teria poucas chances para provar que não era velho demais para a categoria.

Seu contrato com a Simteck lhe daria direito a cinco corridas. Mas, aquele era seu momento. Finalmente, estava dentro do cockpit de um F1. Agora, era o momento de acelerar.

30 de abril, 1994

Pressão.

Já havia queimado uma chance no Brasil, após falhar na classificação para a corrida. Não conseguia se perdoar. No Grande Prêmio do Pacifico, termina na 11ª colocação. Um verdadeiro feito, em razão dos inúmeros problemas apresentado pelo S941. Mas, será que os dirigentes das grandes equipes teriam notado sua performance?

Com essa e muitas outras dúvidas, Ratzenberger coloca as luvas e a balaclava. Vai para a pista tentar fazer a diferença.

Tragédia

A tragédia de Ratzenberger acontece aos 18 minutos do treino oficial, quando seu carro passa reto pela curva Villeneuve, em Ímola, a 320 Km/h. As câmeras pegam o exato momento em que o carro, desgovernado, para atravessado na pista.

Após 12 anos, o circo convive novamente com uma tragédia. As entrevistas coletivas são suspensas. Sua morte é anunciada às 15h05, horário local. E, como em uma tragédia, no mesmo palco de sua estreia.

1º de maio

Ainda existem dúvidas em relação ao acidente. O francês Jean Alesi*, que assistia os treinos de uma tribuna, revela que presenciou o momento em que uma parte da asa do Simteck se solta. Um fotógrafo italiano resolve a questão, pois havia registrado o momento em que Ratzenberger atinge em cheio uma zebra.

Pressionado por Ecclestone, Nick Wirth anuncia que participa da corrida com David Brabham. "Em respeito à memória de Roland, vamos participar da corrida. Não há razão para que desistirmos. Roland amava as corridas e acreditamos que o desejo dele seria de que prosseguíssemos com a batalha".

Com um olhar distante, Ayrton Senna se acomoda dentro do cockpit. Inclusive, já havia preparado uma homenagem em caso de vitória. Carregava, consigo, uma pequena bandeira da Áustria. Para Ratzenberger restaram as notas de rodapé. Afinal, era um mero desconhecido do grande público.


***

*Jean Alesi recuperava-se de um acidente sofrido em Mugello, durante testes da pré temporada.

**Durante o tempo em que esteve no Japão, Roland pagou para o jornalista Adam Cooper escrever seus press-releases. O piloto utilizava essa ferramenta para manter dirigentes e jornalistas informados de suas performances. Temia que sua carreira caísse no ostracismo. Foi assim que Nick Wirth o descobriu no Japão.


*** A frase de sua lápide é o título desse texto.


****Ah, sim. O texto foi elaborado com base em inúmeros depoimentos do jornalista Adam Cooper, frequentador e colaborador do fórum AtlasF1.

21 comentários:

murilo disse...

é felipão fiz um texto sobre senna mas nao citei Ratzenberg, vou ser sincero, na ânsia de escrever algo sobre ayrton me esqueci dou austríaco, não lembro muito dessa época da F1 ainda era uma criança, 6 anos de idade, lembro de pouca coisa, mas sei que ele era um piloto que amava, mais do que tudo, o que fazia que era correr, assim como nosso ídolo Senna, mudando um pouco de assunto, eu sou de serra negra cidade vizinha à águas de lindóia e também fui ao encontro de autos antigos, todo ano estou por lá quando acontece esse evento, que dia você foi ? se foi no sabádo devemos ter nos cruzado por lá, abrção!

Felipão disse...

Murilo...

Valeu pelo depoimeno. Inclusive, coloquem aqui o que faziam no dia. O que lembram sobre o acidente.

Ahhh e na verdade, a matéria é do Fernando De Gennaro. Como eu não pude ir a Lindóia, pedi que ele fizesse esse texto, com as fotos...

Abração

Felipe

Speeder76 disse...

É verdade, verdadinha. Ainda devo o dia 2 nas minhas bandas, mas ainda há tempo.

Ingryd disse...

chorei com o título, chorei com o texto, chorei em saber que é isso que está na lápide de Roland,
e estou chorando até agora...

mulheres...


afinal, é isso que estou a fazer aqui: viver por um sonho...



bjoooos

Bruno disse...

Estava vendo no almanaque da F1, Ratzenberger correu com muitos pilotos que fizeram sucesso na categoria, ainda no Japão. Sem falar que por se dedicar somente a esse sonho, teve desavenças com o seu pai.
Gastou todo dinheiro nessa vaga da Simtek, mas foi justamente nesse curto tempo da F1 que se reaproximou da sua família.
Muito bom o texto, fico olhando o seu título e aquela primeira foto dá para pensar longe...

Quanto ao que eu fazia naquele dia, acho que foi um choque, mas não chegou a me abalar. O que aconteceu no dia seguinte também ajudou a esconder qualquer sentimento pelo austríaco. Coisa de criança...
Abraços.

Ron Groo disse...

Emocionantemente triste Felipe.
Estas são daquelas histórias que ninguém iria escarafunchar, Rolland era o tipo do piloto que infelizmente seria esquecido dois ou três meses após sua morte.
Porém a tragédia do dia seguinte guindou-o junto. Fazendo com que aquele primeiro de maio fosse conhecido como negro.
Eu pouco sei de Rolland, nada conhecia deste texto.
E por isto mesmo me emocionei.
Sallud!
Faço minha homenagem a Senna amanhã, mesmo não sendo fã ardoroso dele.

Anônimo disse...

um dia estava em uma livraria aqui perto onde moro.
Tinha um livro de tds os pilotos q antes de ir pra F1 fizeram carreira no JP, de estatisticas ele parecia ser um piloto bem consolidado no Japão.....
Se não fosse seu sonho de ir pra F1 poderia ter feitos boas campanhas nos carros de Turismo....
Participou de Le Mans e no JSPC (Japan Sports Prototype Championship) antecessor do atual Super GT.
Mas como quando temos chance de concretizar nosso sonhos, não podemos temer o q acontecer em nossas vidas realmente, o q tiver q acontecer ira acontecer...

Germano disse...

a Simtek correu alguns GPs com uma bandeira da Áustria desenhada no topo da tomada de ar (onde era a parte vermelha em cima do MTV)

escrito For Roland

era um desconhecido...mas sua morte foi sentida pelos outros pilotos como se fosse alguma lenda do esporte

Felipe Maciel disse...

Que belo texto, Felipão...

Mais do que completo e informativo, é bastante emocionante...

Abs

Henry disse...

Felipão:
Roland Ratzenberger- Tributehttp://www.youtube.com/watch?v=igjdQwVkniA
Lindo texto!

1abraço

Felipão disse...

Queia agradecer todos vocês. E como foi muito boa a repercursão, vou preparar algo sobre outras passagens muito interessantes do piloto.

Fábio Andrade disse...

Que beleza, Felipão! Que cuidado na redação desse post. Lindo lindo, sinceramente lindo.

Eu não sabia de metade disso tudo. E você transformou tudo num tocante retrato a respeito de uma homem apaixonado. Não apaixonado apenas por mulheres ou só pelo esporte. Ao terminar de ler fiquei com a impressão de que Ratzemberger foi um grande apaixonado pela vida, daqueles que não se deixam abater.

E como eu gosto de gente assim!

Parabéns, cara!

Carlos Cezar disse...

Bonito texto, Felipe. Mesmo não sendo tão conhecido, Roland será lembrado por muitos e muitos anos, assim como todos os outros heróis da F1 que já não estão entre nós!

Felipe Playmobil disse...

- Lindo post, me emocionei..

Abraço.

Teté M. Jorge disse...

Rapaz... esse mexeu comigo por demais!

Lindo, muito lindo esse texto!

Parabéns, amigão! E obrigada por essa história espetacular. Sua escrita é um primor.

Abraço caloroso e admirado.

Marcos Antonio disse...

faço parte do coro, que texto Felipão. Você falou não só do piloto mas da pessoa, é isso que todos querem na vida, viver por seus sonhos e ele conseguiu. uma morte que não é muito citada infelizmente foi engolida pela morte d eum tricampeão,mas sua vida teve tanto valor como dele.

Excepcional felipão!

Felipão disse...

Valeu, galera!!!

Anônimo disse...

Ótimo relato, Felipão. Parece que depois de 15 anos, finalmente Ratzenberger ganhou o merecido espaço entre os adeptos e a imprensa do Brasil. Seu relato foi um dos melhores que li na blogosfera.

Abraço

Felipão disse...

Valeu, Hugo!!!

Marcelo Dias - Clube Kart dos Amigos disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Marcelo Dias - Clube Kart dos Amigos disse...

Felipão...
É a primeira vez que participo do seu Blog, quero dizer que adorei tudo que ví até agora!! Todas as matérias são especiais e importantes para história, e contam a tragetória da automobilismo com excelência.
Sou de Brasília Trabalho na Amir Nasr Racing, equipe de Brasília que participa da StockCar Brasil, também sou fã incondicional de todos os pilotos brasileiros que levam a nossa bandeira sempre para o lugar mais alto do podium.
Gostaria que você começasse a observar um piloto que está surgindo como a mais nova promessa de vitórias brasileiras, o nome dele é Felipe Nasr, pole nas 2 corridas da primeira etapa da Fórmula BMW Européia em Barcelona no mesmo fim de semana da Fórmula 1.
Tenho certeza que ainda vamos ouvir muito sobre este garoto de apenas 16 anos.
Parabéns pelo seu Blog.
Grande Abraço
Marcelo Taz - ANR