quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Nos primórdios da Fórmula Ford

No post sobre a Super-Vê, o RonGroo falou sobre o sucateamento das atividades automobilisticas no Brasil, mais precisamente a respeito das categorias escolas. Isso me fez lembrar do primeiro torneio de Fórmula Ford realizado no Brasil.

Tudo começou em 1970, quando Emerson Fittipaldi (foto acima) venceu o primeiro torneio oficial de Fórmula Ford no Brasil: - o BUA (British United Airways), realizado em cinco etapas.

Para aquela disputa, a organização reuniu os principais pilotos e equipamentos dos campeonatos ingleses no Brasil. Entre os carros, podemos destacar oito marcas de chassis: -Lotus 61, Royale, Merlyn, Hawke DL2A, Macon, Titan, Lola T200 e Mistrale.

Emerson Fittipaldi correu com um carro da equipe Lotus, de Colin Chapman, que, poucos meses depois, o contratou para pilotar seus carros na F1.

Depois de muito tempo, nossos pilotos tinham a chance de competir em igualdade de condições com pilotos estrangeiros. De um lado, nosso grupo formado por Emerson Fittipaldi, Luis Pereira Bueno, Ricardo Achcar, Milton Amaral, Marivaldo Fernandes, Wilson Fittipaldi, Norman Casari, José Moraes Neto, Chico Lameirão e Pedro Victor de Lamare.

Do outro, a legião estrangeira, constituída por Ray Allen, Peter Hull, Tony Lanfranchi, Clive Santo, Sid Fox, Reg James, Max Fletcher, Ed Patrick, Valentino Musetti, Tom Walkinshaw, Vern Schuppan, Tom Belso, Ian Ashley, Gabrielle Konig e Liane Engeman.

A primeira etapa, realizada no Rio, foi marcada pela falta de policiamento, o que permitiu várias invasões de pista. A vitória da etapa ficou com Emerson, vencedor da segunda bateria. Luisinho, que fez história ao ganhar a primeira bateria, não conseguiu terminar a segunda, com problemas na suspensão de seu Merlyn.

Em Curitiba, mais discussão. Os blocos carnavalescos desfilavam em frente ao hotel, atrapalhando o descanso dos pilotos. Alguns haviam esticado na noite anterior, para conhecer o carnaval paranaense. Porém, não gostaram muito. "O do Rio deve ser melhor" declarou, na época, o italiano Valentino Mussetti.

Na corrida, disputada no anel de velocidade, muitas trocas de posições e uma média horária bastante alta: 160km/h. Vitória final de Ian Ashley, que faturou a segunda bateria, depois de uma dura disputa com Marivaldo Fernandes. Na primeira, vitória de Allen.

Depois, a caravana seguiu para Fortaleza, onde mais problemas foram registrados. As carretas que traziam os monopostos de Curitiba quebraram inúmeras vezes, criando um mal estar entre organizadores e Federação Cearense.

A organização sugere o cancelamento da corrida. O clima fica tenso e uma nova solução é apresentada: - que a prova do Rio fosse adiada, para que realizassem a corrida em Fortaleza, no domingo seguinte.

John Webb, um dos organizadores do Campeonato, não concorda, pois perderia muito dinheiro alocando toda a estrutura por mais uma semana em Fortaleza. Assim, o presidente da Federação Cearense, Tenente Coronel Ronald Pedrosa, determina: -"Ninguém sairá de Fortaleza antes de haver corrida. Os senhores Webb, Epstein e Barley (organizadores e patrocinadores ingleses) considerem-se presos no hotel".

Os equipamentos chegam ao autódromo no dia da corrida, às seis e meia da manhã. Os Fórmula Ford foram desembarcados e, horas depois, começava a corrida. Felizmente, os pilotos não guardaram mágoas pelo cárcere do qual foram submetidos. Assim como o secretário da CBA, Ramon Buggenhault, já havia esquecido o tapa que havia levado de Richard Barley, representante da BUA.

Na corrida, o chapéu de um comissário voa para a pista, fixando-se na entrada de ar do carro de Emerson, que vence as duas baterias, apesar da elevação imprevista na temperatura. A partir dali, o "rato" reassume a liderança do campeonato.

No Rio, as carretas voltam a atrasar e, por isso, os treinos são remarcados para o dia da corrida. Com policiamento reforçado, a corrida segue sem maiores problemas. Luis Pereira Bueno impede o título de Emerson por antecipação, ao vencer as duas baterias.

A decisão, em São Paulo, marca a reinauguração da pista de Interlagos, reaberta depois de quase dois anos em reformas. Fittipaldi vence as duas baterias, sagrando-se campeão de um torneio marcado pela versatilidade da escola de pilotos brasileiros.

10 comentários:

De Gennaro Motors disse...

valeu Felipão !

Isso a Mercedes CLC é fabrica aqui sim ! se não me engano em MG rsrs

Valeu cara ! abração !

Ron Groo disse...

Ufa! De perder o folego!
Valeu pela menção. Fiquei honrado.
São estes tempos bons que nos possibilitaram ter tantos pilotos de boa qualidade... Mesmo os que não foram lá grande coisa na F1 sempre fez bonito correndo na europa ou eua. Isto porque tinhamos umas categorias fortes e de preparação por aqui.
Bacana demais Felipão!

Felipão disse...

Valeu, Ron. Essa primeira experiência da FFord ocorreu "entre tapas e beijos"... E com coroné de plantão e tudo...

speed.king.thrasher disse...

Bem legal... o Brasil precisa de uma nova categoria de monopostos...

Loucos por F-1 disse...

Show de bola o post, Felipão!!!
Isso serve para mostrar que mesmo mediante a várias dificuldades as provas eram realizadas com sucesso.

Abraços!

Leandro Montianele

Felipão disse...

Legal que gostaram... Valeu!!!

Tohmé disse...

Gostamos pra cacete. Verdadeira aula.

Anônimo disse...

isso q dá eu ter começado a gostar de automobilismo soh por ver a F1.

Essas e outras histórias "tupiniquins" eu nunca tinha ouvido falar.

Mto bem Felipão,e deve dar uma saudade msm dessa época "cara e coragem' do automobilismo

Janus disse...

Putz, Carnaval de Curitiba é sacanagem ... nada contra a cidade (morei lá 12 anos, maravilhosa), mas os caras perderem o sono por causa daquele carnaval, e depois ainda reclamarem? Tenho que rir só de imaginar a cena ...

História fantástica novamente Felipão, gosto muito dos bastidores dessas categorias menores, principalmente as mais antigas. Ainda sobre a Super-Vê, aquela foto do Celidônio tirei de um artigo que resume toda a temporada de 74 e tem várias histórias assim, qquer dia tento escanear e te mando, é uma leitura muito interessante.

Felipão disse...

Uau...

Seria muito legal, Janus. Poderíamos fazer um texto para publicar por aqui...

Valeu Paulo e Tohmé...

E vamos continuar colocando essas histórias...